quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Vida longa ao Beleléu!






Desde que o meu irmão me escreveu no dia 7 de janeiro, meu terceiro dia de viagem pela Europa central e aniversário de 26 anos dele, eu me pego tentando pensar numa maneira de evitar que meu projeto de blog vá pro beleléu.

Quando publiquei o que teoricamente foi o meu último post sobre a minha aventura solitária - ainda falta escrever sobre o tenso dia que passei em Auschwitz -, pensadamente escrevi no rodapé: FIM DA MINHA VIAGEM, para ver se causaria reações (e se alguém estava lendo isso aqui).

Um ou dois dias depois, li o comentário da Isa, que me fez pensar ainda mais sobre seguir com o Beleléu. Ela sempre foi uma das pessoas que mais me incentivou (para tudo) e, dessa vez, mesmo meio que sem querer, foi de novo determinante (como foi também quando eu estava insegura sobre deixar ou não o Brasil).

Em um dos posts, a Ritinha, com quem eu tive a agradável surpresa de (re)encontrar no meio dos comentários desse blog, escreveu que tinha saudades dessa vida de viajante. Por mais simples que possa parecer, o que ela publicou aqui me fez pensar por um tempão sobre um monte de coisas. Afinal, daqui a (muito) pouco, eu também já não serei mais viajante, certo? Não, errado.

E foi para mostrar para ela (e pra mim mesma) que a gente pode ter "essa vida de viajante" mesmo em casa, que eu disse que gostaria de escrever um post sobre isso.

Depois de um ano e nove meses longe do que eu acreditava ser a "realidade", percebi que enquanto estive fora me senti muito mais livre para viver, em todos os sentidos, do que em meu próprio país. Na Espanha, todas as roupas daquelas catalanas me pareciam super esquisitas no início, os cabelos então! E eu me deslumbrava com o jeito que elas desfilavam os modelitos: nem aí para ninguém, sem esperar a aprovação ou condenação de desconhecidos. Parecia que ninguém tinha medo de mudar, de ser o que bem entendesse. Reconheço que pode ser que não seja bem assim para quem nasceu lá, que essa é a visão de quem tá de fora. Mas é o jeito que eu gosto de interpretar isso e, portanto, a maneira como eu posso escolher viver. Já em Dublin, não vou negar que achei o máximo ser considerada exótica e ser elogiada pelos meus belos olhos (gente!!! my eyes are SO ordinary!!!!). Lembro que meus amigos irlandeses me perguntavam como a brasileira pode ser tão assim, tão assado, tão mil vezes melhor que a irlandesa. De novo, tudo pode mesmo não passar de clichê, mas por que não incorporá-lo if it feels good? De repente, no finzinho dessa temporada, percebi que eu cometia um grande erro ao tratar o meu passado como "a realidade" e de viver pequenas crises pensando que teria que voltar a ela. Estava errada porque a minha vida continua sendo real em qualquer continente. Eu só não conseguia me permitir relaxar totalmente porque a vida que eu levava (e até eu mesma como mulher) estava saindo muito melhor do que a que eu sempre levei (e a que eu sempre fui). E acho até surpreendente esse meu sentimento de ansiedade (do tipo friozinho na barriga bom) por voltar: agora eu aprendi como eu quero (e posso) levar a minha própria vida, e que ela é só minha. Acho de verdade que posso conseguir me sentir turista na minha própria cidade e viver outras mil loucuras e desafios. Doesn't it sound good?

Mas eu sei que a Ritinha devia estar pensando na Torre Eiffel, no D’Orsay, no Arco do Triunfo, nos vinhos franceses e etc. Isso tudo vai sempre estar lá, isso é o melhor.

***

Por isso eu decidi que o Beleléu não vai morrer. Aliás, essa ideia nasceu em Chamonix, na França, há dois meses, quando o Romain (nosso amigo francês que nos levou para esquiar lá e que fala português fluentemente) me perguntou o que significava beleléu, depois de eu ter mencionado a expressão "foi pro beleléu", em desuso há umas duas décadas. Eu tentei explicar, a silvia tentou ajudar, ele fez que entendeu, mas a gente sabia que na real não existe uma definição palpável para isso.

Alguns instantes de reflexão depois, eu visualizei o beleléu como um lugar distante e desconhecido, exatamente como me pareciam os países que eu estava prestes a explorar sozinha e, por isso, gostei da ideia de dizer que estava no beleléu. E é também por isso que o blog não vai acabar aqui - decidi que quero continuar vivendo nesse lugar.

Já mencionei o email do meu irmão e disse que foi a partir dele que comecei a pensar num novo projeto.

Publico o teor dele aqui:

Eu escrevi tudo isso pensando em colocar como comentário no seu blog, como eu gostaria, mas talvez não seja o caso.

Só hoje fui ver o seu blog. O curioso é que antes os diários eram secretos e invariavelmente escritos por meninas. Um seu tinha até cadeado! Hoje tudo é escancarado por todos para meia dúzia de "seguidores", termo que mais lembra discípulos de alguma divindade ou do chapolin: sigam-me os bons!
Então, é uma pena que você tenha criado este blog só em 2010, 19 meses após sua fuga do terceiro mundo e a poucas semanas de voltar para ele. Deixamos de saber de várias aventuras cotidianas suas, quase quedas do trem e quase perdas de voos (vai se acostumando com o desacordo ortográfico).
Deve ser foda mesmo encarar sozinha o invern
o alemão, quando nem os turistas parece que aparecem. Só uns brasileiros perdidos e com inglês ruim que você insiste em ignorar. Espero que escrevendo seus relatos e lendo esses comentários você se sinta menos nômade e mais integrada às pessoas que vão te receber aqui de volta. Em relação ao medo da reinserção social, acho que a última coisa que vai acontecer com você é ficar como a velha da penne pasta, já que você tem raiva de qualquer rotina. Além disso, as trocentas pessoas que foram se despedir de você e da Silva no Copan não iam te permitir uma vida tão monótona.
Eu reconheço que o meu mal é a inveja, nem tanto da sua época de trabalhos braçais e mal pagos, mas desses tempos à toa pela Europa. Espero um dia conhecer metade dos lugares que você vai ter visto até o fim do seu exílio.
A vantagem do chapéu e das botas é que você pode ir trajada de russa em alguma festa a fantasia ou virar atração turística no shopping de Campos do Jordão.
Hoje vou comemorar um ano a menos de vida num bar da modinha que abriu perto da sua ex-casa. Chama Tubaína. Como no ano passado, você não imagina quanta falta vai fazer.
Beijos,
Fernando


Com um irmão assim, como não voltar confiante???

***

Não que mais alguém queira saber ou realmente se importe com as minhas aventuras cotidianas, mas eu gosto de escrever. Não tá aí um bom motivo para continuar? Então eu decidi publicar, em cada um dos meus útlimos dias de Europa, os meus top funny moments aqui. Porque tenho certeza que são entertaining enough e porque eu quero guardá-los na memória para sempre (e como a minha é fraca, talvez o Beleléu me ajude com isso mais pra frente).

Vai começar depois de Auschwitz. Aguardem.

((FOTO: O tempo entre pouso e desembarque do meu voo Budapeste-Dublin, pela Ryanair, foi de, pelo menos, meia hora. O suficiente para criar o Julinho. Na tira "Adaptação", ele, que não faz parte do universo em três dimensões, como um bom boneco de palitinho, se vê diante de uma cadeira com profundidade. Acha a novidade interessante e chega até a experimentar sentar-se nela. Mas quando se depara com a antiga cadeira de palitinhos fica mais confortável (o conforto físico não está em jogo) e decide: é ali que prefere ficar))

((Foto 2: Eu voltava do meu exame do IELTS, que fiz algumas horas depois de desembarcar em Dublin, quando vi o que considero a pior propaganda de todos os tempos. Afinal, Gaudi tem a sílaba tônica no i!! Que absurdo!))

((Foto 3: Depois da prova, tentei ir pra "festa de fim de ano" da firrrrrma, mas me atrasei (estava ocupada dormindo). Ainda deu tempo de ir na house party do Alex! Na foto, eu e ana, dona dos sapatos da foto abaixo - não parece que estou bronzeada perto dela??!!))

((Foto 4: As irlandesas só usam saltos desse tamanho pra cima!!!))

((Foto 5: No dia seguinte, o Alastair me levou para fábrica da Guiness, onde eu ainda nunca tinha ido (sério!). O passeio não é dos mais legais, na verdade você não conhece o lugar onde a guiness é mesmo feita (como a fábrica do whisky bushmills na Irlanda do Norte), só um museu tosco. Mas se for com a companhia certa, pode ser um dos mais legais que você já fez na vida.))

8 comentários:

  1. Oi Ju
    Vou mandar um e-mail para vc, mas adorei o seu blog. ele é bem a sua cara mesmo. Aguardamos o seu retorno ansiosos para a terra brasilis dia 9

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  2. Não pára mesmo, pô
    Agora que entrei nessa vida de blogueiro você vai parar?
    Amanhã (29) embarco para Paris a trabalho. Fico até dia (2)

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  3. eu ando tão ansiosa pra voltar pra londres que não tenho me permitido chorar. mas você e seu irmão não tão mesmo de brincadeira...continuo esta parte do comentário por email!
    linda! sou muito feliz por ser sua amiga! e o blog vai nos manter sempre perto uma da outra. mesmo com 10 anos de diferença no meio!
    milhões de beijos!

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  4. Mulher volte ja para o Brasil!!! Deixa de ser rueira e entra pra dentro!!! Não esqueça de trazer o seu coleta salva vidas para SP...Bjs
    J.O.S.I.A.S

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  5. hahahaha! é isso aí, gata! Eu entendo perfeitamente o que vc escreveu. Quando voltei pensei que a minha vida de verdade era aquela, e não a que eu passei 26 anos vivendo, emparedada entre coisas que eu não gostava. Mas vida é sempre vida, com a diferença de que, quando a gente tem um trabalho fixo no Brasil não pode pegar um TGV e ir parar na Côte d'Azur e ver museus uma semana... Mas pode fazer várias outras coisas tão gostosas quanto! Procurar viver só prá ser feliz foi uma das coisas que eu aprendi nas andanças e vai estar sempre comigo! E viva as epifanias vindas do Beleléu!!!

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  6. P.S.: Adorei a pegadinha do FIM! Essa menina...

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  7. Sem medo nao se avança. O medo que hoje tem e o mesmo medo que vc tinha quando foi para Europa...vou me adaptar? como vai ser a vida?
    Hoje essas perguntas são as mesmas para o Brasil com uma diferença ja sabe o que voce vai ter cá. Só depende de voce mudar as coisas ruims e enxergar a garrafa meio cheia. Como falava um apresentador espanhol: "la vida puede ser maravillosa".
    Espero que nao deixe de escrever este blog! acho bem legal

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  8. Ju, faz um tempo que acompanho silenciosamente suas aventuras por aqui. Mas finalmente resolvi me manifestar pra dizer que me relaciono muito com as suas dúvidas e incertezas, e que é uma grande coisa saber que não estou sozinha nas minhas loucuras. Então acho legal que você tenha decidido continuar com o blog! petonets des de Barcelona, Larissa

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