segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Templo Salgado





Como vocês devem ter percebido (claro, né? Porque ninguém tem mais nada para fazer da vida!), ontem eu não escrevi aqui. O dia foi uma correria danada, era o meu último na Cracóvia, cidade que me surpreendeu muitíssimo, e eu ainda fui dar uma voltinha em Wieliczka, a 15 quilômetros do centro, para conhecer a Mina de Sal.

Não sei se foi porque eu não esperava absolutamente nada do passeio (as polonesas que trabalham no albergue onde eu fiquei hospedada, "Goodbye, Lenin", me disseram que era "normal". "Ah... Tudo é feito de sal", foi o único argumento que elas conseguiram me dar para eu ficar um dia a mais na Polônia e visitar o lugar. Acho que elas são das que pulam e se encaixam nos meninos na balada. Sério. Indício: quando eu estava sozinha, elas mal olhavam para mim. Se tinha algum menino por perto, era uma gritaria insuportável.

Diferenças culturais aside: acho que foi menos por minha baixa expectativa e mais pelo absurdo que é aquela mina - tem 300 quilômetros de comprimento e chega a 327 metros debaixo da terra.

Desde a segunda metade do século 13 até 1996, a mina produziu sal comercialmente e desenvolveu o talento de vários trabalhadores braçais que, depois do expediente, em vez de deixar o mundo subterrâneo correndo, ficavam esculpindo as pedras de sal - apesar das ridículas condições de trabalho a que a maioria muitas vezes nem sobrevivia (mas quem trabalhava lá ganhava uma grana, já que o sal era uma especiaria valiosíssima no passado).

Apesar de ser muito interessante de verdade, confesso que o passeio me deu um pouco de sono. E isso porque só 1,3 km da mina faz parte do roteiro turístico - o resto está fechado para o público. Mas é que chega uma hora que tudo parece meio que igual. Para me manter acordada, decidi seguir o conselho da guia (que tentava ser engraçada em todos os comentários, como esse: "if you don't believe me, you can leek the walls"), então... Provei as paredes. Também comecei a passar sal na cara inteira, parece que faz bem pra pele (pelo menos o ar puro dali "diz que" faz. Então tá, né? Ah! Aliás, a minha pele já melhorou muito desde comecei a usar aquele creme para peles extremamente ressecadas da La Roche-Posay, ótimo para temperaturas negativas e ventanias cortantes (nossa, virou roteiro do Show de Truman).

Última coisa sobre a mina: uma mulher chamada Kinga (em português o nome é bizarro: Cunegunda), que foi parte da coroa húngara no século 13 e se casou com o príncipe da Polônia (Rei Boleslaw V), foi aclamada pelo povo de Wieliczka, na época, como responsável pelo surgimento da mina. Não me lembro bem do que a guia contou (na internet não achei a versão dela para a lenda), mas era algo como um presente de casamento que ela pediu e, quando ganhou a mina, achou lá dentro o anel de compromisso que havia perdido. Bom, vai saber. Parece também que ela nunca chegou a "consumir" o casamento e depois virou freira. Em 1999 foi canonizada pelo papa João Paulo II.

Pode parecer, mas não foi protecionismo polonês - para se ter uma noção da importância que a Kinga tem naquele lugar, o ponto alto (altíssimo) da visita é uma igreja enorme, também subterrânea, construída em sua homenagem. Sério, o passeio vale mais a pena por causa desse templo salgado que, feito com 20 mil toneladas de pedras de sal, tem até uma réplica da Santa Ceia na parede. Os lustres com cristais (de sal!) são belíssimos e dão um contraste chique à igreja de pedra, além de uns arrepios de emoção (sério!)

O conjunto de esculturas mais nada a ver de todos os tempos também me ajudou a não cair no sono. Chega a ser engraçada a reunião, em versões de pedra de sal, do papa João Paulo II, que na infância visitou a mina com o colégio, do Copérnico, o astronômo polonês dono da teoria do heliocentrismo (sol no centro do sistema solar), da Kinga, claro, e até dos anões da Branca de Neve...

Voltei de lá bem mais tarde que o previsto e a cidade já estava escura, mas ainda deu tempo de dar uma voltinha pelo bairro judeu, que é a região mais legal da Cracóvia, depois de Rynek Glówny (Main Market Square). Com um monte de restaurantes e barzinhos descoladinhos, longe daquela molecada do centro - e olha que quase não tem turista no inverno! Lá também deu para encontrar comidinhas típicas polonesas. Se bem que na hora de pedir, desisti da sopa com salsicha (típica) e escolhi o crepe russo, com queijo e batata (1/2 típico e uma delícia!)

Bom, me enrolei nesse post e vou ter que escrever outro só para o dia de hoje. Cheguei em Viena às 7h da manhã e hoje foi, de longe, o dia mais engraçado da viagem inteira!

Viena á um absurda. Já conto.

((Foto 1: St. Mary Church no meu último dia de viagem, antes de ir pra Mina de Sal. Quando eu visitei essa igreja um anúncio dizia: "only prayers" (ou seja: turistas que não rezam pagam) e eu, com a minha melhor cara de peregrina entrei, fiz sinal da cruz e até me refresquei com água benta. Cheguei a ajoehar e rezar, principalmente agradecer por ainda estar viva depois de tantas irresponsabilidades nessa viagem! Naquela hora só tinha umas outras dez pessoas rezando na igreja quando, de repente, começou uma missa. Claro que eu não podia sair correndo na cara do padre e acabei assistindo a uns 15 minutos de missa em polonês - não é tão diferente do que eu me lembro de entender da missa quando eu era criança e estudava em colégio católico - e o padre falava em português.))

((Foto 2: Parece um flagra, principalmente pelo estilo da foto, mas pais puxando os filhos em trenós na neve é a coisa mais comum no inverno daqui. Imagina que aventura para essas crianças! Lembro muito vagamente do meu irmão me puxando num caminhãozinho e já achava o máximo!! Se bem que o trenó já deve estar banalizado entre os europeuzinhos, eles devem achar até meio boring...))

((Foto 3: Já na Mina de Sal. Antes de entrar tem que ficar tonto descendo milhões de degraus. Não sei o que é pior, isso ou o elevador que sobre igual uma lata de sardinha, todo mundo grudado em todo mundo, na volta))

((Foto 4: As fotos dentro da mina estão um horror. Esse aí é o Copérnico. Lá no templo da Kinga a luz tava boa, mas acredita que tinha que pagar quase três euros por FOTO TIRADA????? Fiquei passada com isso! Porque não estão vendendo uma foto para você, estão vendendo uma permissão. Mas se depois de pagar pode, qual é a diferença??? Eu ia até fazer uma roubatinha-foto (com a minha própria câmera, que ridículo), mas achei tão absurdo que desisti))

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