quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Quanta honestidade!



Na primeira vez que peguei o metrô aqui em Berlim, confesso que mal reparei na ausência das catracas! Principalmente porque eu vinha cansada de uma baldeação do trem, lá do aeroporto, e o mesmo bilhete é valido para os dois transportes aqui anyway.

Mas ontem, quando eu desci as escadas da estação Frankfurter Tor, onde eu to hospedada, para ir para o centro, eu fiquei chocada em já chegar direto na plataforma, sem passar por um controle de bilhetes, nem ao menos por quiosques ou máquinas para comprar a passagem. De repente me vi ali, prestes a fazer uma robatinha sem querer, quem diria!

(("Quem diria" porque robatinhas desse tipo rolavam soltas em Dublin e Barcelona, cidade inclusive onde o termo foi criado, mas eram por querer e tinham que ser planejadas))

Tive então que andar até o meio da plataforma para tentar copiar alguém comprando um bilhete, porque eu, claro, não quero usar o transporte público daqui sem pagar por ele - ou melhor, não quero ser perseguida dentro dos vagões do metrô por um grupo armado de policiais alemães com a suástica bordada no peito gritando coisas horríveis, imagina que vergonha!!!!!! Por isso, já comprei quatro bilhetes de uma vez, ficava mais barato assim. E pensei que, de qualquer maneira, só de não ter que tirar as mãos do bolso e as luvas das mãos para validar o bilhete uma segunda vez na hora de sair, como tem que ser feito em Londres, já estava ótimo!

Mas hoje, quando cheguei na plataforma da Frankfurter Tor de novo - dessa vez com todos os meus bilhetes esgotados -, o meu trem já estava lá, com as portas prestes a fechar. Daí eu nem pensei duas vezes... Basicamente fui corrompida pela sociedade!

Tudo bem, vou tentar não fazer mais isso...

Mas eu confesso que acho incrível a honestidade dos alemães! Não existe catraca aqui porque não precisa de catraca, as pessoas simplesmente respeitam as leis e estão acostumadas a cumpri-las. Imagina isso no Brasil??? Transporte público de graça todo dia, eeeeeee! (pois é, ainda sou brasileira, não?)

A viagem de graça me levou de volta ao Brandenburger Tor e, de lá, voltei para o Memorial do Holocauso. Ontem não tive tempo suficiente para o centro de informações no subsolo, faltavam só quarenta minutos para fechar quando eu cheguei. Mas hoje foi ótimo, fiquei lá por um tempão, chocada com a história de cada família de judeus alemães, holandeses, húngaros, franceses, italianos, poloneses e de cada outra nação invadida pela Alemanha durante a segunda guerra. As fotos são chocantes e o trabalho de pesquisa deles é brilhante. No total foram quase seis milhões de judeus assassinados das maneiras mais brutas e covardes possíveis.

De lá dá para caminhar tranquilamente até o Sony Center, na Potsdamer Platz, um conjunto enorme de prédios unidos por uma cobertura envidraçada em formato de tenda onde rola o Festival Internacional de Cinema de Berlim, o Berlinale (que vai ser agora em fevereiro). Além dos cinemas e restaurantes e bares caros demais para o meu budget (um deles se chama Billy Wilder), também fica ali o Museu do Filme, um lugar bem interessante. Vi desde esboços que serviram de inspiração para o set expressionista de "O Cabinete do Dr. Galigari", de 1920 (o filme também fica passando lá), e maquetes para o "Metropolis", do Fritz Lang, até a milhões de fotos da hollywoodiana Marlene Dietrich. A divisão da exposição permanente segue uma coerência histórica legal. Depois ainda fui até o andar de baixo para ver a exposição temporária sobre a atriz Romy Schneide, de quem nunca tinha ouvido falar.

Ah, finalmente vi os restos do Muro de Berlim hoje! Tem uma parte bem pequena em frente ao Sony Center. Apesar de totalmente deteriorado, ainda é impressionante olhar pra esse pedacinho do muro.

Bom, foi isso. Fiquei com vontade de trocar o chinês por um japonês hoje à noite. E os sushis não eram muito caros. Mas, como todos os outros alemães com quem troquei pelo menos duas palavras até agora, a garçonete do japa foi ultra grossa. Eu sei que não é pessoal, só uma questão cultural. Mas voltei pro bom e velho chinês, onde pago 3,50 por uma refeição digna e me tratam muito bem, obrigada!

((Foto 1: Cena de "O Gabinete do doutor Caligari"))
((Foto 2: Restos do Muro de Berlim na
Potsdamer Platz))

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