terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Get lost!!!






Ontem eu passei a noite em claro.

Quando finalmente estava indo dormir, às 4h, depois de terminar o livro e escrever para este blog, o recepcionista do albergue em que estou hospedada - que aliás parece hotel três etrelas - me ofereceu um chá. Na hora fiquei com o pé atrás... Deveria eu perguntar o preço ou, faminta, simplesmente aceitar a oferta prontamente?? (apesar de que de nada adianta um chá com aquela fome da madrugada, principalmnte quando a única refeição (chinesa) do dia já foi há oito horas).

Talvez porque ele estivesse entediado (turnos noturnos sempre tendem ao tédio, qualquer que seja a área profissional), e porque eu optei pela segunda alternativa (a de aceitar o chá prontamnte!), ele então me ofereceu uma torta de maçã!! Como recusar?? Fui com ele fazer uma roubatinha na cozinha do albergue, veja só que ironia, uma roubatinha autorizada! Acho que já perdi o conceito das roubatinhas!

Então, pendurada no balcão da recepção, passei as três horas seguintes filosofando sobre a vida com ele, o chá e a tortinha. O capitalismo foi um tema muito óbvio, trocamos para felicidade, mas aí dinheiro surgiu de novo, falamos de bom-humor (ele era muito legal para um checo), sobre profissão, futuro, envelhecimento, funcionamento das válvulas do coração... Enfim, o suficiente para que três horas se passassem. E eu, que tinha um compromisso às 8h - tomar café da manhã com os meninos e devolver o livro para o rodrigo - muito importante, note-se, decidi ir para o banho em vez de ir para a cama. Fiquei outra.

Decidi até que não vou dormir nunca mais, não vou mais perder tempo!

Só que depois daqueles ovos com bacon (pois é), pães, cereais e tudo o mais, bateu a alcalose e fui tirar um cochilo. Falei para os meninos irem sem mim, que eu os alcançaria (onde e como eu não sei). Meio dormindo, meio acordada, marcamos de almoçar num restaurante típico checo às 14h. Pela primeira vez em um encontro, eu estava adiantada, sentadinha lá, esperando, desde às 13h50. Nada deles. Às 14h20, resolvi tomar uma sopinha em vez do joelho de porco gigante previamente combinado. De novo estava sozinha. E não é que foi legal? Comi, saí pela cidade velha, visitei um monte de galerias de arte super bacanas, bares subterrâneos, e entrei em várias lojinhas de bonecos ventrílocos - acho que estou começando a gostar demais deles.

Depois, subi na torre do Orloj, relógio astronômico medieval que fica na Praça da Cidade Velha. Ele é todo cheio de detalhes bem visíveis lá de baixo. Mas achei que pudesse compensar pagar 100 coroas para subir e, de repente, ver o funcionamento desse planetário primitivo composto por símbolos do zodíaco, da lua e do sol, números romanos e representação do céu e de Praga no centro. Mas quando eu subi pelo elevador super moderno que não combina muito com a torre medieval, percebi que o passeio não tem nada a ver com o relógio em si - que desperta a curiosidade de qualquer um - mas apenas com vista lá de cima que, ok, é linda, mas não o suficiente para que eu escondesse minha decepção do moço vestido de guardinha medieval.

Em vez de entrar nas igrejas ao redor da praça (que também tem uma Starbucks estratgicamente localizada, o que começa a me parecer estranho), fui para o escritório de informação da cidade, onde conheci o segundo checo mais legal de Praga. Ele me explicou tanta coisa, mas tanta, que eu já estava até sem graça de ir embora (eu sei que não faz sentido). Assinalou os bares que ele pessoalmente mais gosta de ir, mesmo sem que eu perguntasse. No final, suspirou. "Oh, It kind of makes me want to wander around a little bit as well!", como se fosse a primeira vez que ele, o moço do balcão de informações, informava alguém. No que eu, muito educadamente, respondi: "Do you wanna join me?" Ele disse que já fez muito isso e que inclusive levou gente para dormir em casa (antes que o leitor ache essa cena do escritório de informações estranha para os padrões turísticos normais, já antecipo que é gay, bem gay).

Por fim ele me explicou como eu poderia usar o meu ticket transporte 24 horas, pegando qualquer trem, metrô, ônibus e até funicular para conhecer a cidade em um dia. Eu me empolguei tanto com a ideia que saí correndo em direção ao bonde número 12, cuja rota me pareceu interessante. Para chegar no ponto de onde ele sai, passei pela Karluv Moste e fiquei louca com a Staronová Synagoga. Agora, quando passei em frente ao Rudolfinum, casa da Orquestra Filarmônica Checa, não resisti e entrei. Fui direto para box office: 10 euros para assistir ao concerto de sexta-feira, às 19h30, no pior lugar. Na hora eu mentalmente comecei a trocar todos meus os planos de viagem. Mas agora decidi que em vez de ficar outros dois em Praga só para isso, vou visitar Viena e assisto um concerto lá. Does it sound like a good plan?

Atravessei a linda ponte Mánosuv Most e, quando cheguei do outro lado, um pouco perdida, pedi informação para um senhor com um uniforme não sei de onde. Ele, sem entender o que perguntei, me deu a resposta errada, o que eu só percebi depois de ter ido para o extremo norte da cidade, o completo oposto de onde eu deveria chegar.

Meu pai um dia me disse que ninguém se perde para sempre, mas dessa vez eu quase duvidei da máxima dele. Fui salva por uma mulher que não falava uma palavra de inglês e que queria tanto me ajudar que tentou se comunicar comigo em alemão (coitada!). Dentro do segundo bonde, que eu acreditava ter pego no sentido contrário do primeiro equivocado, descobri que estava me perdendo ainda mais. Falei para ela que precisava chegar em qualquer estação de metrô. Quando ela entendeu a palavra metrô (porque subway não adiantou), apontou para ela própria, no que eu entendi que esse era também o seu destino. Saímos daquele bonde, pegamos outro, saímos de novo, andamos um monte no meio da nevasca juntas. Já era noite e eu, achando esquisita aquela situação da incomunicabilidade, resolvi falar mesmo assim.

Durante uns dez minutos tentei contar pra ela que eu sou brasileira e que por isso andava que nem um pato na neve (acho que ela não entendeu a piada), disse que pela primeira vez eu viajava sozinha e contei para ela todo o meu itinerário (foi a parte em que me senti mais confortável, porque ela entendeu o nome de todos os países, ufa!). O engraçado é que ela imitava as minhas reações fingindo que estava entendendo. Chegamos na estação. Ele me levou até a catraca e estendeu a mão, como quem diz: "Isso é o metrô". Eu agradeci muito e, para minha surpresa, ela virou as costas e foi embora, não embarcou. No balcão de informações, eu precisava saber para qual plataforma seguir (nunca tinha andado de metrô aqui antes e não tinha noção de onde eu estava). A mulher me respondeu em checo. Eu olhei para ela. Ela me olhou. Repetiu em checo, bem devagarzinho, com um movimento de boca mais lento. Esforçada. Mas, claro, não faz muita diferença ela falar em checo rápido ou devagar, faz?

Depois disso ainda tive que pegar outro bonde e passar muito frio.

Dizem que o legal em Praga é "se perder por aí". Sério, no meu guia mesmo está escrito! "Get lost"...
..."And be fucked!" - essa é a parte que esqueceram de publicar.

De agora em diante, não vou aceitar dicas de qualquer um.


((Foto 1: Atravessando a ponte, pouco antes de me perder))

((Foto 2: Tyn Church de cima da super torre))

((Foto 3: É bonito, histórico, de um valor imensurável... Mas você consegue ver as horas nesse relógio? Acho que prefiro o big ban))

((Foto 4: Vou mudar de profisão e manipular ventrílocos na Paulista quando eu chegar no Brasil))

((Foto 5: Olha o tamanho do barril de pilsen no U Vejvodu, o restaurante checo))

3 comentários:

  1. Ju, gostei tanto da sua ideia de ver um concerto em Viena que visitei o site da filarmônica e... Parece que nesta semana eles estão em Nova York. Depois eles têm tres datas em Salzburgo.

    De qualquer maneira, tente assistir a uma MISSA em Viena. Se você pegar uma igreja fodona, pode ser uma experiência meio épica, pelo que ouvi dizer.

    E esse boneco parece marionete. Boneco de ventríloquo é aqueles que geralmente você só mexe a boca.

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  2. Oi, Otto! Tudo bem? Com certeza vou seguir o seu conselho lá em Viena, obrigada! Desculpa, mas a gente se conhece? Não me lembro pelo seu nome!

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  3. Nossa, que mané, você, Ju! Nem vem me zoar com essa história de nome.

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