segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Mergulha, Angélique!




Primeiro, me senti a própria Camille: ela sabe que encontrou o homem da vida dela, mas fica questionando o coração o tempo todo. Depois, a Angélique me fez ver que, na verdade, eu preciso começar a fazer parte de um grupo tipo o Émotifs Anonymes; é tanto medo que os sentimentos às vezes ficam presos na garganta, sem entender que precisam (e podem) sair de mim.

Dos dois filmes, eu saí chorando. Depois de ver Adeus, Primeiro Amor (Mia Hansen-Love), confesso que eu senti uma angústia que nem sabia de onde vinha: as lágrimas que corriam no meu rosto eram de tristeza, mas eu não estava triste. Chorei porque entendi que a Camille (a linda Lola Créton) se forçou a dizer adeus a seu primeiro amor. E daí que quatro anos se passaram, que a menina amadureceu e que vive com o homem que a fez finalmente sentir-se mulher? E daí tudo isso se ela ainda fugiria com aquele moleque, mesmo depois de tanto tempo?

Hoje, quando terminou a sessão de Românticos Anônimos (Jean-Pierre Améris), eu também chorei, mas de felicidade (chorar de felicidade no cinema = Émotifs Anonymes urgente pra mim!). E depois de relacionar os dois filmes, que, tirando o fato de serem franceses, não têm nenhuma ligação à primeira vista, entendi que tinha ficado triste à toa.

Em Adeus, Primeiro Amor, Camille, ainda adolescente, é deixada pelo namorado que ama, e só depois de quatro anos longe dele consegue se apaixonar de novo. Ela se envolve com um homem mais velho, por quem sente um amor maduro, mas ainda precisa dar o último adeus ao menino que cortou seu coração. Românticos Anônimos é mais leve: conta com graça a história de Angélique (Isabelle Carré), uma mulher tímida que cria chocolates, mas acaba contratada como represente de vendas em uma fábrica (de chocolates!), tamanha dificuldade que tem em se expressar. Ela se envolve quase que por acaso com o novo chefe, que é ainda mais 'émotif'. Os dois têm medo de tudo - e é justamente a semelhança que assusta Angélique: como a união deles poderia um dia dar certo? Não são os opostos que se atraem? Há dois meses, eu percebi que não exatamente...

Fiquei triste à toa quando chorei no fim de Adeus, Primeiro Amor porque não entendi, de primeira, que a Camille não quer deixar o primeiro amor ir embora do coração dela por puro medo. Ou não seria mais fácil encarar um relacionamento com um moleque que ela (acha que) já conhece, e com quem sempre vai se sentir à vontade, com aquela leveza de adolescente, do que enfrentar o desconhecido em uma relação madura, que joga na cara dela o tempo todo que ela cresceu?

Foto 1: não precisa ter medo, Angélique,

Foto2: e não precisa chorar, Camille;

Foto 3: tá tudo bem.