quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Sissi = Romy = ? / Mulher = homem = ?




((Assim que encontrar uma boa rede de wifi conserto os acentos desse texto))

Ouvi falar pela primeira vez da atriz Romy Schneider quando visitei o Museu do Cinema, no Sony Center, em Berlim. Fiquei hipnotizada pela beleza dela e analisei cartaz por cartaz, li texto por texto, ate entrevista em progama do Jo alemao eu fiquei la ouvindo. Essa foi tambem a primeira vez que escutei sobre a Sissi, imperatriz da Austria e Rainha hungara que Romy interpretou (aparentemente, eu ainda nao vi) tao bem no cinema que parece ela mesma ter virado um pouco Sisi tambem.

***

No meu ultimo dia em Berlim, em um bar com o Thomas, ele viu o folheto do Museu do Cinema com a foto da atriz no meu caderno e eu comentei que a historia dela me chamou a atencao. "Quantos anos ela deve ter hoje?", perguntei.

"Nossa, acho que faz uns 40 que ela morreu!!!"

"haaa!!! Nao acreditoooo!!!!!!" Eu respondi, chocada.

Muitas gargalhadas depois ("eu nunca nem tinha ouvido falado dela, c'mon"), ele explicou que achava que ela tinha morrido de overdose e eu fiquei surpresa de verdade.

Olha so que coisa: a Sissi era cosiderada a mulher mais bonita da Hungria do seculo 19. A Romy, muito mais bonita que ela, tambem deve ter sido vista assim na Alemanha dos anos 50. A Sissi se dizia incompreendida, nao conseguia viver sob a etiqueta real dos Habsburgo. A Romy teve que se esforcar muito para se desvencilhar da Sissi, trocando a Alemanha pela Franca - e causando aparente indignacao no publico alemao. Desde o suicidio do filho, a Sissi ja estava morrendo aos poucos, em depressao grave, ate que foi assassinada no meio da rua por um anarquista. O filho da Romy morreu com 14 anos e depois disso ela se afundou nas drogas, o que a levou `a morte por ataque cardiaco. A depressao de nenhuma das duas teve a ver exclusivamente com a morte do filho.

Achei louca a semelhanca entre elas e estava bastante curiosa para conhecer um pouco a rotina da Sissi real no Hofburg (Palacio de Inverno dos Habsburgo) - e tentar entender por que ela foi tao incompreendida assim.

Na verdade, acho que ela era tao bonita que ficou obcecada com a propria beleza ao envelhecer. Todos os dias, levava tres horas para se arrumar. Duas so com o cabelo (que alguem fazia para ela, claro). Sobrava tempo demais para pensar na vida! E tanta reflexao a fazia crer que estava presa em si mesma, naquela vidinha de mentiras, sem volta (por isso gostava tanto de viajar, era o seu unico escapismo). E, de alguma maneira, acho que isso foi um pouco o que levou a Romy a se matar tambem: pensar que a vida ja nao tinha mais volta.

Enfim, adorei a visita ao palacio e achei interessante a sala das pratarias, apesar do tedio de ver aquelas infinitas colecoes de porcelanas e pratas que a realeza usava para comer.

De la, fui dar uma voltinha no Museum Quarter. E o maximo aquele monte de exposicoes juntas, uma do lado da outra, num lugar so - no que e considerada a oitava maior area cultural do mundo, com predios modernos e barrocos juntos. O complexo e gigante e muito bonito. Fica de frente para o Hofburg.

Parece que o Leopold Museum e o mais famosinho, mas estava fechado ontem. Ainda bem, porque acabei indo ver a exposicao 'Gender Check', no Mumok (Museum Moderner Kunst Ludwig Wien).

Primeiro eu achei que fosse uma coisa modernosa sobre preconceitos relacionados `a homossexualidade e estava com um pouco de preguica desse assunto. Mas depois de saber do que se tratava, me interessei muito - so nao fiquei mais tempo la porque o museu fechou.

Eles reuniram 400 trabalhos de varios tipos de midia (principalmente pinturas e fotos) criados a partir de 1960 nos paises da Europa do Leste para mostrar como foram mudando os papeis do homem e da mulher na sociedade. Por exemplo, durante o comunismo, varios artistas pintaram o homem e a mulher idealizados pela propaganda do governo, focando a tal 'genderless society', em que nao haveria diferencas entre os sexos: as mulheres nao teriam as vaidades do ocidente e trabalhariam para o estado num esforco masculino. Na mesma epoca, pinturas lado B mostravam que a propaganda era mentirosa. Mais tarde, no comeco dos 70, veio a liberalizacao da sexualidade do homem e da mulher, transformando a propaganda do governo em cliche ultrapassado. Depois, com a queda do muro, as liberdades capitalistas chegaram acompanhadas de preconceito, conservadorismo e ate xenofobia.

Achei a curadoria o maximo (comandada por Bojana Pejic). A exposicao e muito bem organizada e faz sentido historico.

Claro que passei pela Lomo Shop, do lado do Mumok, e comprei o presente da Thata!

Depois da andanca, dormi no sofa do albergue com medo de nao acordar para o primeiro trem do dia: embarquei para Buda `as 6h50.

((Foto 1: Nao podia fotografar os apartamentos do Palcio de Hofburg, entao coloquei essa foto com porcelanas com motivos naturais pintadas `a mao, usadas pela realeza, que expicita a adoracao de Sissi pelo escapismo das viagens que fazia pelo mundo))

((Foto 2: O bigodinho e a menor das diferencas))

((Foto 3: Esse quadro de 1950 exemplifica bem o conjunto de pinturas (meio que desconhecidas no mundo da arte ate hoje) que obedeciam as ideias comunistas no Leste Eurpeu. Autor: Wojciech Fangor (Polonia). Reparem nas diferencas enre as unhas feitas de uma e a mao caleijada da outra mulher (uma trabalhadora e oura nao). E repare tb na estampa dos vestido da primeira. Note que o homem esta no centro da tela, representando o contraditorio papel principal na sociedade))

4 comentários:

  1. Ah, sissi/romy... e as roupas dos filmes, então? demais!!!

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  2. Ritinha!!! Serio que so eu nao conhecia a Sissi??? rs As roupas sao demais mesmo, nem da pra acreditar que alguem podia vestir tudo aquilo de uma vez!

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  3. Você precisa ver o documentário O Inferno de Clouzot, sobre as filmagens atordoadas de L'Enfer (1964), filme inacabado de Henri-Georges Clouzot. Ela era a atriz principal e sofreu um bocado nas mãos do diretor. E aparece do jeito que ela era, nada recatada como em Sissi. Ou então assista à comédia What's up, Pussycat (O que É que Há, Gatinha), com Peter O'Toole, Peter Sellers e Woody Allen. Nada a ver com a Sissi mesmo

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  4. Hahaha, relaxa, Ju, é que Sissi é coisa de quem pegava fita VHS na locadora prá assistir em videocassete quatro cabeças... ou seja, faz teeeeeeeempo!

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