sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A substituição do chinês






Pode parecer pouco, mas comer no chinês virou big deal para mim.

Tudo começou ontem, quando liguei para o meu irmão para dar os parabéns (e gastei todos os meus créditos, por isso estou agora ainda mais isolada do mundo - nem receber chamadas eu posso mais).

Enfim, a conversa foi meio assim:

-Alô (aquele jeito seco dele).
-Parabééééééns!
-Ô, Ju!! Onde você tá?

(Eu tava no chinês pela terceira vez e, como leitor desse blog, assim que eu dissesse que estava lá, ele já saberia que era a terceira vez.)

-"No chinês", falei, baixinho.
-"Onde?"
Decidi mudar estrategicamente: "Em Berlim!!"
-"Tá, eu sei. Mas onde, porra!"
-"No chinês, no restaurante chinês", já com um tom defensivo de "e daí que eu to aqui??", porque tinha certeza sobre a reação dele. Se fosse outra pessoa, acho não me importaria...
-Porra, Juliana (quando me chama de juliana, assim inteiro, é ainda pior)... Não acredito que você tá aí de novo, cara!
Eu tentei interromper:
-Mas, Fernando, eu to sozinha, com fome, pouca grana, eu só quero comer, só isso!

E aí vieram vários argumentos, inclusive sobre a gente viajando com os nossos pais e indo sempre ao mesmo restaurante (...).

Enquanto ele falava isso, eu fiquei tão triste que quase comecei a chorar - acho que tava meio sensível ontem! Eu cheguei a falar para ele que pelo menos eu tinha escolhido outro prato que, beleza, também tinha frango, vegetais e arroz, mas dessa vez o molho era apimentado!!! Não adiantou nada.

Mudamos de assunto, ficou tudo bem (quer dizer, ele nem soube que eu fiquei mal). Mas voltei para o albergue me sentindo a última das viajantes (traveller?). Principalmente porque eu tinha contado para o Alastair anteontem que esqueci o meu cartão de crédito em Dublin e que a silvia teve que me enviar dinheiro aqui na Alemanha pelo western union e ele falou que eu era a worst traveller ever. Meninos sem coração, não?

***

Hoje de manhã (uma da tarde, na verdade), as mudanças começaram ao sair do albergue. Em vez de virar à esquerda, fui pela direita! E em vez de pegar o U-Bahn (metrô) Frankfurter Tor, entrei na estação S-Bahn (de trem) Warschauer Str. para ir até Hauptbahnhof, "a maior e mais moderna estação da europa", segundo seu próprio site, para dar uma pesquisada nas passagens para Praga (eu sei que tem a internet para isso, mas sou velha e às vezes não confio muito. Aliás, se tivesse confiado e comprado o bilhete de 60 euros que sai daqui à 00h40 e chega em Praga umas 9h da manhã - o que seria perfeito para mim, porque eu economizaria uma noite de hospedagem -, eu teria me enfiado numa fria (para ser gentil com as palavras).

Eu vi no site que o trem pára (não existe mais acento diferencial, né?? ai, céus, não posso voltar pro Brasil depois da mudança ortográfica!!! ai, pronto, achei uma desculpa boa!!!!!) em dez lugares até chegar a Praga, mas só quando eu cheguei no guichê descobri que eu teria, na verdade, que fazer dez baldeações!!!!!!! Imagina que horror!!!!! Acho que eu perderia o ponto em todas! Vou voltar amanhã para comprar porque, como a pessoa mais desorganizada do mundo, esqueci de levar o dinheiro para a passagem! Ainda bem que eu to sozinha! Mas tudo bem, amanhã eu volto e aproveito para visitar a East Side Gallery, que fica bem ali na estação Warschauer Str. Amanhã eu explico que é isso.

Bom, a segunda mudança na rotina (depois de mudar o meio de transporte) foi meio forçada. Todos os dias, em vez de pagar os três euros que o albergue cobra pelo café da manhã, eu vou na geladeira e faço o meu próprio com as comprinhas que eu fiz no primeiro dia. Hoje, quando abri a geladeira, surpresa!!! Alguém jogou fora a minha sacolinha!!!! Acreditam????? Como eu sabia que a culpa tinha sido minha por não colar uma etiqueta na sacola (acho isso uó!), fui embora quieta desconfiando de que as bananas que serviram no café da manhã podiam ser minhas!

No meio do caminho até a estação, com fome, entrei num restaurante/café que me pareceu bem honesto, já que o hot dog tava um euro! Quando vi o desenho de uma salsicha tosca na porta, acho que meu subconsciente me fez entrar. "Salsicha = comida típica". Mas claro que não ia comer um hot dog no café da manhã (apesar de que aí já tinha passado das 13h!). Então pedi o esquisito croissant recheado com queijo, pepino e tomate (vai que é típico, né?) e a clássica tap water!

Bom, depois de descer em Friedrich Str. achando que tava perto do Checkpoint Charlie, tive que caminhar pelo equivalente a duas estações até chegar lá. Apesar de ter os pés congelados pela segunda vez (a primeira foi na cúpuila de Reichstag), gostei bastante do passeio, parece que essa rua é tipo a Grafton, a Oxford St, vai!, daqui. Passei (bem longe) por um monte de lojas top tipo Emporio Armani, Mont Blanc, etc. até avistar o Charlie (!!) naquela foto ridícula que colocaram, gostaria de saber por que, no Checkpoint, único acesso dos membros das forças aliadas à parte leste de berlim e também símbolo da Guerra Fria. Ali tem uma relativamente grande parte (comparado à que eu vi ontem, em frente ao Sony Center) do que sobrou do muro e dá para ver certinho a divisão, interrompida pelo trânsito da Friedricht Str.

Bastante coisa sobre a história daquela época tá impressa em uns tapumes que o governo colocou na frente do muro. Bom, depois de passar a tarde no Mauer Museum Haus am Checkpoint Charlie - claro que ia passar horas lá depois de pagar 12,50 euros para entrar, um absurdo total, sendo que o museu nem é tão legal assim. Não só por ser meio caseiro, mas porque todos os registros históricos (tem até balão e carros usados pelos fugitivos do leste) estão meio desordenados nos quartos desso predinho. Daí do nada tem um puta espaço para o Guernica, do Picasso, começam a falar da guerra civil espanhola... Nada a ver.

Um pouco irritada na hora de ir embora, eu descontei tudo no alemaozinho da lojinha de souvenirs do museu. Eu perguntei alguma coisa sobre a East Side Gallery para ele, daí ele, fofo, respondeu com a maior atenção. Daí eu comecei a falar da minha impressão de que os alemães não falam inglês at all (pelo menos em farmácias, supermercados, cinemas e afins, ou seja, onde você mais precisa se comunicar), no que ele rebateu que na Itália é ainda mais difícil. Que que tem a ver, né, mas na hora concordei. Depois falei que todo mundo era meio grosso e estúpido e que ninguém queria muito ajudar. Daí ele concordou e começou a falar de umas mímicas que teve que fazer quando foi para Istambul recentemente. Enfim, amansei e perguntei se ele conhecia um lugar legal para comer (quase convidei ele também, imagiiiiiiiina???????) e daí ele me indicou o Deutsche Kuche - disse que era barato e bem daqui mesmo.

Tão daqui que todo o cardápio pendurado do lado de fora tava em alemão e, claro, a dona não sabia falar inglês - e muito menos tinha o cardápio em inglês - diferente de todos os restaurantes turísticos da região. Mas ela foi tão fofaaaaaaa que me mostrou prato por prato nas panelinhas e eu fui escolhendo, mesmo sem saber o que eram aquelas coisas esquisitas. Por isso escolhi batata, bife, cenoura e ervilha! Aí ela colocou um pouquinho de uma gororoba que eu nunca vou saber o que é só para eu provar! Fofa, né? A refeição custou seis euros e valeu a pena, porque tava uma delícia e porque tinha uma montanha de comida no prato.

De lá fui no quase histórico Einstein Kaffee, que fica bem em frente ao Charlie. Na verdade eu já tava indo embora quando prestei atenção a um dos tapumes do muro que tinha a foto de uma galera reunida em frente ao prédio desse café no dia da queda do muro, acho. E o no mesmo lugar, naquela época, também tinha um café! Então decidi entrar e acabei tomando o melhor latte ever lendo o finzinho do diário da anne e olhando pro charlie! Lovely!


(Mas amanhã decidi que vou me embebedar em algum lugar)

((Fotos 1 e 2: um pouco do Mauer Museum Haus am Checkpoint Charlie só pra você!!))

((Foto 2:
Olha aí um dos charlies - do outro lado é outro! E também dá pra ver um pedacinho do Einstein Kaffee no segundo plano))

((Foto 3:
o que restou do muro em frente ao Checkpoint Charlie sob o efeito da luz de uma moto que passou bem na hora!))

((Foto 4: Se eu passasse outros três dias aqui, acho que poderia virar freguesa! Pobre chuinês...))

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