segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A fuga das magrelas


Ela fica, o tempo todo, ali na garagem,
encostada na vaga de algum carro desconhecido,
que a protege mesmo sem saber de quem é.

Eu fico, na maior parte do tempo, no meu quarto,
deitada na minha cama nova, queen size,
que mal chegou e já me fez uma refém qualquer.

Às vezes, a gente precisa se encontrar.
Eu tenho que fugir do conforto; ela se sente sufocar.

Durante o resgate, ela deixa o portão de ferro da garagem:
aí, já não sei mais quem queria sair correndo
(e quem estava enferrujada)
não me lembro quem foi abandonada
e a quem (quem) tinha que salvar.

Porque, quando estamos juntas, só corro

Corro, socorro, corro
Rec: recorro, corro, morro
Volto, mando, grito
Corre!
(ela tenta)
Corr, corrrrrrrrrr
Corre!
Corrrr, corrrrrrrrrrr
(a corrente arrebenta)
Paro, inalo, desvio
Ela volta,
Corre, socorre, recorre, escorre
Corr, corrr
Corre, corr, cor(ói).

Socorro
Só corre

Corre!

Ela obedece, sai correndo e eu seguro firme.
Eu obedeço, saio correndo e ela segura em mim

O vento bate forte, depois mais forte, passa por dentro e vai embora.
Pronto, tudo volta ao normal.